Don’t Believe the Hype

A "Janela de Overton" é um conceito que explica como a opinião pública sobre determinado tema pode ser moldada ao longo do tempo. Inicialmente, as ideias são vistas como inaceitáveis, mas, através de estratégias como propaganda e manipulação, podem se tornar gradualmente aceitáveis e até inevitáveis. Essa técnica é usada por políticos, mídia e outros influenciadores para mudar o que é socialmente tolerado. Compreender esse processo ajuda a perceber como certas ideias ganham força e se tornam parte do consenso social.

Estudar e entender o conceito da Janela de Overton é uma boa estratégia para compreender que boa parte das opiniões não são autênticas, elas talvez tenham sido induzidas.

Pense na janela da sua casa, e a paisagem através dessa janela. A medida que você se aproxima ou se afasta da janela, o horizonte se fecha ou se amplia. Assim funciona a Janela de Overton, ela amplia os limites no campo das ideias, mas com consequências na sociedade.

O que é a Janela de Overton? 

A Janela de Overton descreve um conjunto de ideias toleradas pela população. Seria o grau de aceitabilidade de uma opinião dentro da sociedade. Ela registra o senso comum das pessoas em um certo momento, sobre um determinado assunto.

Pense em uma longa linha de ideias sobre um assunto que se deslocam entre um extremo, absolutamente contrário, para o outro, absolutamente favorável. A “janela” é a faixa que concentra o que a massa aceita.

Emitir opiniões fora da “janela” pode significar ser rejeitado, ou como é mais comum nas redes sociais, cancelado.

As etapas da Janela de Overton são:

  • Inaceitável;

  • Verossímil - talvez pense nisso algum dia;

  • Neutralidade – não tenho uma opinião formada;

  • Provável - é possível que eu concorde;

  • Aceitável.

A expressão leva o nome de seu criador, Joseph P. Overton, ex-vice-presidente do Centro de Políticas Públicas de Mackinac, Michigan, EUA.

Em seus estudos, Overton mostrou que diversos atores sociais escolhem não apenas o que as pessoas pensam, mas também como elas pensam. Na prática, quando uma figura pública quer aceitação social, deve emitir opiniões que variem dentro da janela considerada aceitável.

O que faz esse tema fascinante é sua elasticidade: a Janela de Overton não é fixa.

Vou dar um exemplo pessoal. Na minha adolescência e nos primeiros anos de trabalho meu maior consumo era em CDs das bandas que eu mais gostava. Eu tinha toda a coletânea no U2, Aerosmith, Legião Urbana. Eu adorava os encartes, organizar os CDs nas prateleiras, eu era um colecionador.

Nessa época, se alguém me perguntasse: você trocaria os seus CDs por uma assinatura de música, onde você poderá ouvir online todas as músicas do planeta, eu responderia um categórico NÃO.

Hoje, passo o dia com o Spotify aberto e meus CDs estão pegando poeira no armário. Em resumo, a minha Janela para o streaming de música passou do Inaceitável, para o Aceitável no decorrer dos anos.

Para que o deslocamento da Janela de Overton aconteça em massa, é preciso que a população mude sua opinião sobre um tema. Muitos manipulam a opinião pública para aceitar o que era inaceitável.

Quando há uma vontade intencional de mudança da opinião pública, gasta-se dinheiro para vender a ideia. Dessa forma é iniciado um trabalho para neutralizar e em seguida mudar as opiniões.

Existem deslocamentos da Janela de Overton muito positivos. Um deles foi com relação à escravidão, que passou de aceitável a inaceitável no decorrer de algumas décadas. 

Os grandes agentes que tem o poder de deslocar a Janela de Overton são políticos, imprensa, institutos de pesquisa e mais recentemente influenciadores digitais. Esses agentes são chamados por Overton de think tanks.

Quais são as etapas para o deslocamento da Janela de Overton?

Ato 1 – Um evento singular

Geralmente a discussão sobre algum tema sensível ou de grande rejeição pela sociedade começa com um evento fora do normal, que acaba por abrir espaço para uma discussão.

Um atentado, uma tragédia, uma crise econômica seriam exemplos de eventos singulares.

É possível tirar proveito do desespero, do medo, da insegurança, da ignorância e da fala de especialistas. Pensando de uma forma maquiavélica, grandes eventos podem levar as pessoas a renunciarem a seus direitos em nome de um “bem” maior.

Ato 2 – A opinião se torna aceitável

O que antes era rejeitado e repudiado começa a se tornar normal e entra nas rodas de discussões das pessoas e nas “conversas de bar”. 

Com um empurrão dos think tanks a ideia começa a se tornar sensata. 

Ato 3 – Popularidade

A opinião torna-se popular sendo veiculada em propagandas, filmes, novelas, séries e nos demais meios de entretenimento. Os artistas a apoiam e o novo fenômeno se torna mais presente no imaginário social.

Ato 4 – A ideia é politizada

A aceitação torna-se tão forte, que o Estado decide regulamentar o debate. E o que começou como algo impensável, torna-se uma lei.

“Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”

Joseph Goebbels

O exemplo mais nefasto e extremo dessa mudança de realidade foi o nazismo.

Mas calma, nem tudo é teoria da conspiração. Muitas mudanças acontecem de forma natural, então você não precisa desconfiar de todos. O natural da sociedade é mudar e evoluir.

A melhor forma de nos protegermos da manipulação é o conhecimento. Buscar informação na fonte, ler os grandes clássicos, analisar os argumentos e os think tanks e dessa forma entender as consequências das ideias.

Don’t Believe the Hype

Até a próxima.

Marcelo Alemi, o MonkeyStocks.