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A primeira bolha da República
O que foi o Encilhamento
A história das bolhas econômicas ao redor do mundo não é novidade: Sub-prime, Tulipomania, Crise de 1929...
Mas você conhece a história da primeira bolha ocorrida no Brasil?
Conhecida como Encilhamento, essa grande crise econômica aconteceu no final do século XIX, logo no primeiro governo da República, presidido por Marechal Deodoro da Fonseca.
Antes de entrar nos detalhes da crise, precisamos entender como era o mundo no final do século XIX.
Em 1886, Karl Benz inventa o primeiro automóvel, e os irmãos Lumiére inventam o cinematógrafo, dando origem aos primeiros filmes do mundo. Também nesse período foram inventados o toca-discos e a pilha elétrica.
No Brasil, as casas e vias públicas eram iluminadas por meio de cilindros coloridos de vidro, com cera e um pavio no centro e por lâmpadas de óleo de baleia. Também vale lembrar que a abolição da escravidão era recente (1888), um ano antes da Proclamação da República.

Pensando em termos de comunicação, Marconi inventaria o rádio apenas em 1895, e o telefone era uma novidade recente (1874), sendo o primeiro telefone instalado no Brasil em 1877, no Palácio Imperial.
Portanto, as notícias circulavam de duas formas: para as longas distâncias eram usados os telégrafos, e para curta distância, os periódicos impressos. Em resumo: a informação era lenta e escassa.
Sob os efeitos da Revolução Industrial, os líderes da república brasileira estavam pressionados a criar políticas econômicas para a industrialização do país. O então, ministro da fazenda, Rui Barbosa, com a intenção de estimular a economia, implementa duas medidas: aumenta a emissão de papel-moeda e cria estímulos ao crédito, ambas para atrair investidores e investimentos da área industrial.
O plano, decretado em 17 de janeiro de 1890, permitia a expansão monetária lastreada em Apólices da Dívida Pública, e bancos regionais poderiam ser emissores de moeda.
O plano mostrou-se um total desastre. A expansão industrial desenfreada causou grande especulação. Entendam, estamos falando do século XIX, e as ferramentas para auditoria e controle eram arcaicas. Como era extremamente fácil e barato tomar crédito com os bancos, muitas empresas fantasmas apareceram e foram lançadas ações nos mercados de capitais, sem qualquer lastro.

Charge satirizando Rui Barbosa
Para se ter uma ideia, em 1888, havia pouco mais de 90 empresas listadas no país. Em 1891, esse número já tinha saltado para cerca de 450 empresas. Nessa época a principal bolsa de valores do Brasil era a Bolsa do Rio de Janeiro.
Os resultados do Encilhamento foram duríssimos:
Aumento da dívida externa brasileira
Aumento do desemprego
Inflação galopante
Aumento dos juros
Nos dois anos do governo de Deodoro da Fonseca, o PIB do país cresceu 20,2%. Em compensação a inflação passou de 1,1% para 89,9%.
Ruy Barbosa deixou o cargo de Ministro da Fazenda em janeiro de 1891, e o então presidente Deodoro da Fonseca renunciaria ao cargo em novembro do mesmo ano.
Apesar de ter o seu estouro entre 1890 e 1891, o Encilhamento teve como consequência uma recessão que perdurou por quase uma década, e teve seu final no governo de Campos Sales, em 1898, quando assume como Ministro da Fazenda o advogado Rodrigues Alves, que aplica ajustes econômicos duros e ortodoxos, que depois se tornaria presente.
O Encilhamento é um exemplo claro de como políticas econômicas errôneas adotadas pelo governo podem causar um grande impacto negativo para um país.
Por que o nome Encilhamento?
As corridas de cavalo eram muito populares no final do século XIX. Poucos instantes antes da largada, os cavalos eram preparados para correr, ou seja, encilhados. A política economia brasileira tornou-se tão especulativa, que as chances de enriquecer rápido eram comparadas com as chances de ganhar dinheiro com as provas hípicas.
Até a próxima.
Marcelo Alemi, o MonkeyStocks