O pequeno caminho

O ser humano com o tempo busca coerência com as suas decisões. Acreditamos que seremos fiéis a elas, sejam elas virtuosas ou não. 

Durante a Guerra da Coreia, na década de 1950, alguns militares norte-americanos foram presos em território chinês. Os carcereiros chineses pediam para que os prisioneiros lessem alguns textos em troca de comida. Texto como “Na China o desemprego praticamente não existe”, “Os Estados Unidos não têm um sistema político perfeito”. 

Sempre que um prisioneiro mostrava concordar, mesmo que de forma parcial com algum tema, era solicitado que ele se aprofundasse no assunto e escreve mais sobre. Aos poucos, os prisioneiros mudavam a sua autoimagem com relação à China e aos Estados Unidos, se tornando mais simpáticos aos primeiros e críticos ao segundo.

Um estudo, realizado na California, pedia para que um grupo de moradores colocasse um pequeno adesivo em seus carros, com a frase “Dirija com segurança.” Praticamente todos aceitaram colocar o adesivo.

Após algumas semanas, era solicitado que o mesmo grupo colocasse em suas casas, uma enorme e grotesca placa, com a mesma frase. Em paralelo, era feito o mesmo pedido para outro grupo, que não havia colocado o adesivo em seus carros.

Enquanto 76% do grupo dos adesivos aceitou colocar a placa na frente de suas casas, apenas 17% do segundo grupo aceitou o pedido. Ou seja, o primeiro grupo já havia criado uma autoimagem diferente do segundo grupo, dentro de um movimento social em prol da segurança.

Esses são apenas dois, de infinitos exemplos de como o ser humano e a sociedade é bastante manipulável, para o bem e para o mal.

As pequenas decisões que tomamos em nosso dia a dia, moldam a nossa identidade ao longo do tempo. Começar um novo curso, iniciar uma dieta, desistir de um projeto...

A criação da nossa identidade não acontece do dia para a noite, de forma súbita. Ela é construída ao longo de anos, em nossas pequenas escolhas. Dessa forma, sempre que escolhemos posturas e atitudes das quais não gostamos, ou não compactuamos, precisamos ser críticos e agir de forma ativa, até mesmo intolerante, para que isso não se torne nosso “normal”.

Uma vida virtuosa pode ser construída, mas não será em um tiro de 100 metros, será em uma maratona em um terreno acidentado. Assim, é preciso que façamos boas escolhas. Bons amigos, bons livros, bons hábitos, um(a) bom(a) companheiro(a), e sempre de forma consistente.

Até a próxima.

Marcelo Alemi, o MonkeyStocks