As Quatro Causas de Aristóteles

O que é a Teoria das Quatro Causas?

Entre meus 5 e 12 anos, meu lazer preferido era andar de bicicleta, eu tinha uma Caloi Cross grená, da cor da camisa do Juventus da Moóca.

Um dia, brincando no condomínio onde meus avós moravam, meu pai chegou de uma viagem e eu, eufórico, sai pedalando para encontrá-lo. No meio do caminho cai, e o guidão da bicicleta rasgou minha perna. Resultado: três pontos na coxa direita, que me rendem uma boa história e uma cicatriz até hoje.

Pensando de uma forma filosófica, o que causou esse acidente? Quando alguém de fere, a causa seria o acidente? Tendemos a pensar a causa de uma forma binária, onde a consequência é definida por uma causa. E onde estariam a sorte e o azar nessa equação?

Aristóteles elevou esse tema a outro patamar, e criou algo que chamamos Filosofia Natural e formulou a Teoria das Quatro Causas.

O que é a Teoria das Quatro Causas?

Aristóteles pensou quatro tipos de causas para as coisas. São elas:

  • Causa Formal: o que dá forma ao objeto?

  • Causa Material: do que o objeto é feito?

  • Causa Eficiente: o que fez o objeto?

  • Causa Final: para que serve o objeto?

As duas primeiras, causa material e causa formal, são de valor intrínseco, ou seja, explicam a constituição do ser. As duas últimas, de valor extrínseco, concentram-se em explicar a mudança causada no externo.

A Causa Formal

A causa formal é a responsável pelas coisas serem o que são. Um carro é reconhecido como carro por causa da forma de carro, uma moto é reconhecida como moto por causa da forma de moto, e assim com todas as coisas.

Aprofundando um pouco a questão, vamos imaginar uma cadeira de madeira. Um marceneiro olha para a madeira, e consegue enxergar a cadeira que será construída.

Assim, com suas ferramentas, o marceneiro produz as peças que darão forma à cadeira. Esse móvel então torna-se uma cadeira e não mais simplesmente pedaços de madeira. A madeira em si, é a causa material.

Para refletir de forma mais profunda, antes da cadeira, a madeira já possuía forma, e era reconhecida como tal, então o marceneiro deu nova forma, criando a cadeira. 

Essa forma natural da madeira é chamada de forma substancial, já a nova forma, a forma de cadeira, é chamada de forma acidental. Podemos concluir que a matéria está sempre em movimento, alterando sua forma, a madeira se torna cadeira, que pode se tornar um banco, e assim por diante.

Portanto, segundo Aristóteles, tudo é composto de matéria e forma.

A Causa Material

A causa material é a própria matéria, que constitui todos os seres, todos os objetos e todas as coisas da natureza. No exemplo da cadeira, a madeira é a causa material de sua existência.

Pensando de uma forma abstrata, Aristóteles idealizou algo que chamou de matéria primeira

A matéria primeira é o que constitui todos os objetos e corpos do mundo sem qualquer forma. Seria a indeterminação da forma. Como tudo que existe no mundo ou na natureza, tem forma, não é possível a nós identificar a matéria primeira.

Assim, Aristóteles defende que os nossos cinco sentidos se limitam a perceber a matéria acidental, que possui tamanho, cor, temperatura e afins.

Também seguindo o raciocínio de Aristóteles, não temos inteligência para aprendermos o que é a matéria primeira, pois nossa inteligência opera a partir da imaginação, usando nossos sentidos. O máximo que podemos é deduzir que ela exista.

 

A Causa Eficiente

Antes de entrar na Causa Eficiente, precisamos entender o conceito de ato de potência e o princípio do movimento e do repouso dos seres.

Tudo que pode ser algo, mas ainda não é, está em potência. Uma semente é uma semente, mas potencialmente pode ser uma planta. Assim como, no exemplo anterior, a madeira potencialmente poderia ser uma cadeira. Quando a cadeira se torna de fato uma cadeira ela está em ato.

Portanto, todo movimento envolve passar algo em potência para algo em ato.

Para que o ato de potência aconteça, para que uma mudança aconteça, é necessário um movimento. Então, em todo movimento ocorre a mudança de forma substancial ou acidental.

Entendidos esses dois conceitos, sabemos que uma cadeira não se torna cadeira a partir da madeira sozinha. É necessário um agente externo para o movimento

O que fez com que a potência da cadeira se tornasse ato? A causa eficiente. É uma causa transformadora. 

Segundo Aristóteles, a causa eficiente é responsável pelo movimento, por fazer algo passar da potência ao ato.

 

A Causa Final

Toda Causa Eficiente está diretamente associada a uma Causa Final.

Voltando ao exemplo da cadeira, o marceneiro que transformou a madeira em cadeira, o fez para: ou sentar-se, ou vender a cadeira, ou alguma outra finalidade.

Pense em algo que você fez ou irá fazer hoje, qual será a Causa Eficiente que você fará e a Causa Final. Não há uma, sem a outra.

 

Mas e o imponderável?

Quando o pequeno Marcelo saiu em disparada para encontrar com seu pai, sua causa final era matar a saudade de seu patriarca. Mas as coisas saíram do controle e a movimento esperado não aconteceu. 

O acaso ou a sorte são causas acidentais. Seus efeitos também possuem causa eficiente, gerando efeitos não previstos.

Apesar de entendermos um acidente como acaso ou imponderável, quando olhamos isoladamente para o acidente em si, ele terá suas quatro causas, se considerado em paralelo.

“A alma é a causa eficiente e o princípio organizador do corpo vivente.”

Aristóteles

Podemos concluir que todos os atos da vida se resumem às Quatro Causas de Aristóteles, elevadas à potência infinita, pois não temos ideia de quantas Causas Eficientes estão acontecendo no mundo nesse momento. É por esse motivo que eu gosto tanto e acredito na sorte e na aleatoriedade.

Até a próxima.

Marcelo Alemi, o MonkeyStocks